Tal como haviamos anunciado, o treinador adjunto, Simão Neto redigiu a crónica da partida entre Oliveirense e SU 1.º Dezembro (1-3).
Antes de falar do jogo, propriamente dito, quero realçar a excelente assistência registada nesta partida, algo que é extremamente positivo para todos os que gostam desta modalidade. Só é possível haver evolução no futebol feminino se existir mais público, mais equipas, mais atletas, mais apoios e mais e melhores treinadores e processos de treino.
Posto isto, vamos contextualizar o jogo.
Esta partida realizou-se no Norte do país. Nesta região, por motivos culturais, o futebol é levado muito a sério, sendo o público muito apaixonado e agressivo, partilhando as jogadoras desta última característica e juntando-lhe uma enorme combatividade.
Estas características do público e jogadoras, aliadas ao facto de o adversário ser o campeão nacional e a Oliveirense ter, este ano, subido ao escalão principal da modalidade, resultou numa equipa hiper motivada, que fazia da sua entrega, agressividade e velocidade as suas principais armas para ganhar o jogo.
Todavia, se queremos alcançar objectivos ambiciosos, temos que nos abstrair do ambiente e, em vez receá-lo ou encará-lo como uma dificuldade, olhá-lo como uma oportunidade de nos tornarmos mais fortes. Só aprendemos com as dificuldades que nos levem aos limites das nossas faculdades, físicas, mentais, tácticas, técnicas etc.
Os primeiros 15 minutos da partida foram mal jogados. Não conseguimos “pegar no jogo”, devido à distância entre sectores e à frequente inferioridade numérica no meio campo. As nossas alas estavam muitas vezes demasiado próximas das avançadas deixando o meio campo desguarnecido. Por isso, não conseguiamos ter posse de bola e criar situações de perigo, visto que a equipa adversária apresentou um sistema hiper defensivo, utilizando um futebol directo a tentar aproveitar a velocidade das suas avançadas.
Ao quarto de hora da partida alterámos o sistema para Gr+4×3x3, com mais uma jogadora no meio campo, e começámos a preencher melhor os espaços neste sector. A Oliveirense, como utilizava marcação quase individual, tirou uma jogadora da defesa para o sector médio, dando assim, mais espaço às nossas avançadas para jogarem e aproveitarem os espaços. A equipa adversária, acabou por consentir demasiados espaços entre a lateral e a central e, ao tentar jogar para o fora de jogo, permitiu que aproveitássemos os espaços nas suas costas.
Marcámos 3 golos num espaço muito curto de tempo e penso que, nesse momento, o jogo acabou. Baixámos a intensidade do jogo, começámos a pressionar muito menos e, embora tenhamos tido algumas ocasiões para marcar, acabámos por falhar sempre na concretização.
Na 2.ª parte, a Oliveirense continuou com a mesma atitude e intensidade, enquanto nós, aos poucos, começámos a baixar o bloco para muito próximo da nossa área. A equipa adversária continuou a realizar futebol directo, pressionando imediatamente para ganhar a segunda bola, e conseguiu 3 situações de grande perigo: uma deu golo e nas outras duas situações a Carla Cristina grandes defesas permitindo-nos manter a vantagem.
Apesar de não dominarmos a posse da bola e, consequentemente o jogo, termos tido algumas situações de contra-ataque ou ataques rápidos com oportunidade de finalização, falhámos sempre neste capítulo.
Já perto do final (87 minutos), a equipa da casa chega ao golo de honra, num bom remate de fora da área, após vários erros defensivos.
Resumindo, se temos o sonho de, no próximo ano, ir a Liga dos Campeões temos que ser campeãs e melhorar muito o nosso jogo, especialmente na capacidade de manter e circular a bola com fluidez e segurança. Temos que ter menos mobilidade no ataque, pois a mobilidade só é benéfica quando conseguimos ser solidários e conseguimos manter as coberturas ofensivas e o equilíbrio defensivo.
Outro conteúdo a melhorar são as transições ofensivas. Não raras vezes, devemos abrir rapidamente e manter a posse de bola ao invés de, tentarmos constantemente a profundidade (com o risco que isso acarreta). Perdemos demasiadas vezes a posse de bola desta forma, obrigando-nos aos esforços físico e mental extra de recuperação da bola.
Nas transições detensivas, a primeira atleta a fazer pressão deverá ser muito mais rápida no pressing e na cobertura defensiva. A equipa deverá ser também, mais organizada a defender, pois, se não pressionarmos as defesas, deixamos que estas coloquem a bola, com facilidade, directamente nas suas avançadas. Por último, e mais importante: não podemos descansar em relação aos resultados conseguidos. Esta atitude é, não só uma falta de respeito pelas adversárias, como por nós próprias, sendo que o resultado (ganhar por 1-0 ou 8-0) deverá ser algo completamente independente da maneira como o jogo é encarado. Apenas desta forma é possível passar para outro patamar de qualidade.
Quero elogiar o comportamento e importância das atletas mais velhas, nos jogos (Carla Cristina, Carla Couto, Tânia e Sílvia) pois, apesar de já terem ganho tudo em Portugal, continuam a ter uma vontade enorme de ganhar, sendo este o comportamento pretendido para as mais jovens, visto que é com esta cultura de vitória que ser fazem os campeões.
Para finalizar, quero dizer que a qualidade não nasce de geração espontânea, pelo contrário, dá muito trabalho. A qualidade de treino, além de exigir muito esforço, é um hábito que se cria e sabendo que “o Hábito faz o Monge” temos de pensar que, se queremos ser competitivos em Portugal e na Europa temos que aproveitar todos os dias, todos os minutos de jogo ou treino para melhorarmos e dar o máximo de nós próprios, com metas cada vez mais ambiciosas, pois, na alta competição, todos os pequenos pormenores contam e nós já tivemos a nossa cota de “Mortes na praia”.
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