A Premiership é provavelmente o maior espectáculo do Mundo. É inegável que o campeonato inglês está, neste momento, muito superior à demais concorrência. Se analisarmos o fenómeno futebolístico como um todo, vemos que a Premiership sai vencedora na esmagadora maioria dos factores: competitividade, qualidade dos jogadores, horário dos jogos e o preço dos bilhetes. Tudo isto contribui para que os “inventores” do desporto se tenham mantido no topo desde sempre.
A competitividade do campeonato é gritante e salta à vista. Qualquer uma das vinte equipas que compõem o quadro principal entra em campo para ganhar. Isso nota-se todos os fins-de-semana quando um clube de maior dimensão defronta um dos grandes. O resultado é imprevisível. Veja-se, já este ano, quando o recém-promovido Burnley recebeu e venceu o Golias Manchester United. Certamente que a vitória dos Clarets não passava pela cabeça de ninguém. O Burnley é de outro campeonato, diriam os comentadores. O que é certo é que o Burnley ganhou por 1-0 e o Manchester caiu.
A explicação é simples: em Inglaterra só existe um ”campeonato”. Os clubes mais pequenos jogam o jogo pelo jogo, de peito aberto, porque não têm nada a perder e tudo a ganhar. O exemplo mais recente disso mesmo é o Hull City. No ano passado os Tigers entravam pela primeira vez na alta-roda do futebol inglês e, apesar de um final de ano sofrível, na primeira volta chegaram a andar pelo terceiro lugar. Apesar da quebra de forma normal, no final, acabou por se manter, relegando o histórico Newcastle United para a divisão secundária.
Este sentido de jogo e a consciência de que todas as vitórias são possíveis leva a que o campeonato inglês seja um dos mais disputados do mundo e, um espectáculo apreciado à escala global.
No último defeso muita tinta correu pela transferência de Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid. É certo que os estádios ingleses perderam um grande jogador mas, apetece dizer que “por morrer uma andorinha não acaba a Primavera”, mesmo que essa andorinha seja o melhor jogador do mundo.
Os grandes jogadores continuam a pisar o maior palco. A Premiership continua a contar com verdadeiros artistas como Lampard, Ballack, Drogba, Rooney, Modric, Gerard, Mascherano, Fernando Torres, Nasri e Arshavin. Jogadores que qualquer clube gostaria de contar nas suas fileiras. Estes são só alguns exemplos de que ainda existe muita qualidade pelos campos de Inglaterra. A Premiership continuará viva e apetecível mesmo na era pós Cristiano Ronaldo. É óbvio que, para os amantes do futebol, CR9 fará falta. Mas, também é verdade que, depressa será substituído por outro ídolo. Já aconteceu no passado e voltará a acontecer, porque não existem insubstituíveis.
Deixei para o fim (propositadamente) duas questões que merecem ser repensadas no futebol português: os horários dos jogos e o preço dos bilhetes. O futebol inglês é uma máquina, muito bem oleada, de marketing. Os seus clubes estão entre os que mais facturam em todo o mundo. Pode não parecer mas, tudo isto tem muito a ver com o que aqui quero falar. Os horários dos jogos têm muito a ver com o facto do mesmo ser televisionado ou não. Em Inglaterra existe bom senso nesta matéria. Os direitos televisivos são negociados de forma a satisfazer as três partes interessadas: clube, televisão e público. Os jogos são realizados num horário que possibilita os estádios estarem cheios. Jogos de manhã ou às 15 horas pode soar estranho para a nossa mentalidade latina mas, o que é certo é que os estádios estão repletos de público. E, as experiências realizadas cá vêm dar razão a este método. Quando os jogos são realizados nestes horários e ao fim-de-semana (os repetidos jogos à segunda-feira são outra das maleitas do futebol luso) têm assistências muito maiores.
A concorrer para a adesão do público está, também o preço dos bilhetes. Os valores praticados em Portugal são incompreensíveis. Tendo em conta o nível de vida nos dois países, a diferença de preços é brutal. Enquanto na Inglaterra os bilhetes podem ser comprados por quatro libras, em Portugal dificilmente podemos assistir a um jogo por menos de dez euros. Se levarmos em conta a qualidade do espectáculo, então a diferença ainda é mais abissal. Em Portugal quer-se ganhar uma época em dois ou três jogos quando se devia pensar no fenómeno como um todo. O que é preferível? Ter casa cheia três vezes por ano ou diminuir os preços e boas assistências todas as semanas. Dá que pensar?
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